
Vale a pena repostar essa preciosidade, que as grandes gravadoras não se importam em divulgar, e acabam no esquecimento. E um agradecimento especial ao Dj e pesquisador de Reggae Roots, Canuto Lion, por essa bela compilação.
Vamos voltar no tempo. Especificamente ao século XIX. A Jamaica toda se divide basicamente em diversos latifúndios e seus donos, ou seja, a aristocracia inglesa branca. Sob o sol escaldante do caribe, entre as plantações de cana-de-açúcar, banana, etc, milhares de escravos cantavam para que as horas de intenso labor fossem menos severas. A entonação vocal era única. Uma distorção nasal exótica e ao mesmo tempo bela, que revela nada mais, nada menos, que a tentativa de continuação de culturas ancestrais milenares em uma terra estranha. Com o passar dos anos, e a fusão cultural entre a cultura negra e inglesa, surge o mento, que durante boa parte do século XX vai representar a produção musical jamaicana. Esses "caipiras" conseguiram até um certo sucesso, mesmo servindo de "bicho de zoológico" para grandes companhias de Hotéis onde se apresentavam. Com a década de 60, e a avalanche cultural e o orgasmo musical que Kingston sofreu, essa vertente mais "rústica" da música jamaicana ficou sob segundo plano. Muitos tentaram uma carreira musical na capital, mas esbarraram em "exigências técnicas", principalmente das gravadoras inglesas. É bom lembrar que na Jamaica, o termo "Quashie", ou seja, "caipira", tem um sentido pejorativo fortíssimo. Poucos foram os produtores que acreditaram no "country reggae" e consequentemente, raras são as gravações desse estilo. Nessa coletânea, boa parte das músicas jamais fora lançada em LP, muito menos CD.
Aliás, peço perdão pelo "chiado" de algumas músicas. Nessa compilação consta alguns raros exemplos dessa distorção nasal descendente da musicalidade africana, como em "Babylon Wrong", um raro B-Side de Aston "Peanuts" Davis. Vale lembrar que só existem duas músicas conhecidas desse sujeito. O lado A e o B de um compacto de 7 polegadas. O lado A é simplesmente Jailhouse Yodel, na minha humilde opnião, uma das músicas mais lindas que a Jamaica nos deu. Conhecida no triumvirato do roots (São Luís-Belém-Fortaleza) como Melô de Catuaba. Estão presentes também 4 músicas da dupla Prince Brothers, que chegou a ser produzida por Mrs. Sonia Pottinger. Com "Charmaine", ou o Melô de Macumbeiro, os Irmão Prince se tornaram famosos em alguns lugares, mesmo sem ter idéia de tal fama. Definitivamente, clássicos do "country reggae" (termo criado pelo colecionador e dj Cabeça de Leão, fora do Brasil, existem outras denominações, como reggaemento entre outras). Estão presentes tambem algumas músicas de cantores que foram influenciados pelo estilo. Watty Burnett (o mesmo King Burnett), que hoje canta com os Congos. Max Romeo regravando um calypso em forma de "pedra". E ainda um raro som de Judge Dread, com a clara influencia do country no ritmo. Fora isso, é preciso notar que, mesmo que muitos cantores não tenham gravado country, a musicalidade do interior da jamaica é visível no trabalho de muita gente. Quando um (até então) pintor de paredes de Kent Village resolveu subir no palco de um dos muitos festivais da Jamaica, foi recebido com insultos, como: "Cai fora, caipira". Conta-se que, na segunda metade da música Cherry Oh Baby, Eric Donaldson já estava sendo aplaudido de pé, vindo a ser vencedor do festival. A voz única, logicamente foi um fator essencial. Eu poderia citar varios outros, Leonard Dillon (Ethiopian), Maytones, Jackie Brown, etc. Resumindo: existe um universo de música e cultura além daquilo que uma prateleira européia pode mostrar.Dj
CanutoLionYou & Me on a Country Jamboree
Uma relíquia DO BLOG JAMBOREE - OK DJ CANUTO LION YOU - JAH BLESS
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